Ele conta que esperava essa situação. "Para ser bem sincero, já estava esperando pelo histórico da empresa em relação a negociações. Então por isso, a gente esperava o pior", disse ele.
Jonas Santos tem 51 anos e foi demitido por e-mail. Única fonte de renda da casa em que mora com a esposa e duas filhas, ele conta que já pensa em tentar um novo emprego para manter as despesas.
"A loja que minha filha trabalhava fechou. Eu já estou correndo atrás de outras coisa porque no fundo já esperava que a empresa pudesse demitir. Esperávamos que isso pudesse acontecer",
disse.
Em uma assembleia realizada às 14h na porta da fábrica nesta quarta, o sindicato anunciou que vai entrar com uma ação na Justiça contra a empresa, que não vai aceitar as demissões nesta condição e que os trabalhadores seguirão com o acampamento em frente à planta.
Contexto
As demissões ocorreram em meio a rodadas de negociações junto ao Ministério Público do Trabalho (MPT) sobre os desligamentos da maior parte dos funcionários devido a uma paralisação nas atividades da fábrica até 2025.
Na mensagem, a empresa anuncia o desligamento sem necessidade de aviso prévio a partir de quinta-feira (26) e com pagamento das verbas rescisórias.
O Sindicato dos Metalúrgicos afirma que a categoria foi surpreendida pelos cortes. O órgão informou que, após os trabalhadores recusarem a última proposta, as partes voltariam às negociações no Ministério Público do Trabalho.
A última proposta foi recusada em assembleia nesta terça-feira quando a empresa ofereceu indenização de sete a 15 salários, dependendo do tempo de trabalho. A proposta do Ministério Público do Trabalho (MPT) era de 20 salários e extensão de benefícios, como convênio e vale-alimentação. Após a recusa, a empresa iniciou as demissões.
Em negociações anteriores, a empresa havia concordado em suspender as demissões até janeiro, com implantação de layoff a partir de junho e estabilidade de três meses ao fim da medida. Apesar disso, depois da divulgação do acordo com a ata de reunião assinada por representantes da empresa, a Caoa Chery voltou atrás.
No comunicado em que declinou da proposta, disse que a ofereceria salários adicionais para a indenização e que caso não fosse aprovada a oferta em breve, retiraria o benefício.
O sindicato informou que vai se reunir com os funcionários desligados em assembleia em frente à fábrica na tarde desta quarta para discutirem medidas a serem tomadas.
O que diz a Caoa Chery
Em nota enviada durante o período da tarde desta quarta, a Caoa Chery disse que não poderia adotar o layoff proposto pelo sindicato porque "no momento que atravessa, não pode se valer de tal recurso, pois a restruturação do estabelecimento e maquinário, demandarão longo espaço de tempo, provavelmente mais do que dois anos".
A nota diz que o sindicato foi procurado desde o início, mas que a entidade manteve uma "postura inflexível".
A montadora ainda ressaltou no comunicado que "antes mesmo de receber uma resposta, a Caoa Chery foi surpreendida pela invasão de sua propriedade, que foi danificada" em um ato organizado pelo sindicato nesta terça-feira (24). A empresa ainda disse que pagará as verbas rescisórias aos trabalhadores.
Histórico da fábrica
A Chery inaugurou a fábrica em Jacareí, a primeira da montadora no Brasil, em agosto de 2014 após três anos de obras e investimento de US$ 400 milhões. O objetivo era aumentar a participação no mercado brasileiro, mas os números não decolaram.
Em 2017, a Caoa assumiu metade da operação da montadora Chery no Brasil. A parceria tinha a expectativa de reverter o fracasso de vendas e metas, impostas pela multinacional chinesa, para atuação no Brasil.