Lá no início da temporada, a tal regra que impede (ou deveria impedir) os clubes de demitirem mais de um técnico durante o Campeonato Brasileiro soou como música para o ouvido dos que ainda acreditam que há conserto para o reino da malandragem.
A regra é (ou deveria ser) clara: cada time só pode trocar de comandante uma vez durante o Brasileirão. Na teoria, tudo lindo. Na prática, as brechas da própria norma criada transformaram exceções em regra e mantiveram a já conhecida dança das cadeiras entre os treinadores.
Se alguém ainda tinha dúvidas quanto a isso, o vai e vem da última semana esclareceu tudo. Grêmio e São Paulo trocaram seus treinadores. No caso do time gaúcho, a queda de Luiz Felipe Scolari seria a última permitida de acordo com a tal regra. Seria, mas não foi. E não foi porque sua saída, assim como a do seu antecessor, Tiago Nunes, aconteceu “em comum acordo”.
Viu como é simples? Ora, se não pode “demitir” o treinador, uma conversa rápida, uma multa alta e pronto. E nós, entusiasmados com a promessa de estabilidade que sempre defendemos para os comandantes, caímos no conto do “comum acordo”.
No caso do Tricolor do Morumbi, o “comum acordo” vai custar mais de R$ 4 milhões de multa a Hernán Crespo – exatamente 750 mil dólares, cerca de R$ 4,1 milhões. Já dá pra dizer que maquiar o “pé na bunda” não está saindo barato. E em grave crise financeira, o São Paulo deve parcelar essa multa do mesmo jeito que fez nas rescisões com Hernanes e Daniel Alves.
Muitos vão chamar esse drible na regra dos técnicos de “jeitinho brasileiro”, essa expressão que foi da criatividade à corrupção num piscar de olhos e que já virou patrimônio nacional, tombado, amplamente difundido e praticado de Norte a Sul. Mas infringir a regra é, na verdade, a mais pura trapaça.
Não é defender o trabalho de Felipão no Grêmio atolado na zona de rebaixamento, ou o de Crespo, que parece ter estacionado no título do Paulistão. Só não é justo transferir responsabilidades. Cada um tem sua parcela de culpa e a de quem tem o poder de contratar técnicos, assistentes e jogadores, convenhamos, é considerável. E, pelo visto, não é uma regra frágil que vai impedir um dirigente ruim de tomar decisões ruins.