Pode um brasileiro torcer para Argentina numa final de futebol? Pode, claro que pode.
Em tempos de tanta intolerância, é importante deixar isso bem claro logo de início.
Esse tema, tratado como polêmica, dominou a discussão esportiva dos últimos dias, antes, durante e depois da final da Copa América que, para alegria dos argentinos - e de alguns brasileiros, foi vencida por Messi e sua turma.
Alguns que declararam torcida pelos hermanos citaram razões políticas, defendendo que uma vitória dos comandados por Tite representaria o triunfo do negacionismo do atual governo que não poupou esforços para se oferecer como sede, ignorando (mais uma vez) a pandemia que matou mais de meio milhão de brasileiros. Nesse caso, ainda pesou a favor dos argentinos o fato de terem entendido que era necessário abrir mão de sediar a competição.
Outros pontuaram a falta de identificação com a seleção pentacampeã. E teve gente que condicionou a torcida contra por reverência ao futebol encantador de Lionel Messi.
Todos os motivos são aceitáveis, quer você concorde ou não. E isso, também é aceitável.
Trazer a Copa América para o Brasil, de fato, foi uma das maiores aberrações que vimos nos últimos anos. Engana-se quem classifica a resposta rápida aos e-mails da Conmebol como um erro apenas. Erro não se calcula, não se planeja. Erros acontecem, como aconteceu com o bom lateral Renan Lodi, mal posicionado e desatento no gol de Di María.
Também é preciso compreender que existem pelo menos três níveis de relacionamento com o futebol: o amor por um time, a idolatria ao craque e a relação com a seleção nacional. Esta última, no nosso caso, está desgastada faz tempo.
E é esse desgaste que sustenta a opção de muitos por Messi ou por um selecionado que não seja o brasileiro. E, convenhamos, ainda que os jogadores tenham pouco a ver com isso, é difícil dissociar a seleção da CBF, uma entidade mergulhada em denúncias e escândalos.
Torcer para Argentina é possível, sim. Cada um tem seus motivos e não é essa discussão que precisamos ter. Tanto no futebol como fora dele, existem coisas mais importantes a debater.
O Brasil de Tite, por exemplo, estacionou num patamar preocupante que carece de criatividade no meio e qualidade na finalização – precisamos de um camisa 10 e um 9.
Muito mais importante ainda foi o que li no jornal Estado de S.Paulo, pouco mais de 24 horas depois da consagração de Messi. Estrangeiros das seleções trouxeram nova variante da covid-19 durante a Copa América, confirmando para quem ainda não entendeu, o tamanho da irresponsabilidade dos culpados.
Isso, sim, é torcer contra o Brasil. O resto, meu caro leitor, é apenas futebol.