“É como se tivessem arrancado um pedaço do meu coração. Uma dor que não tem explicação”. É desta forma que a pedagoga Fernanda Angélica Silva Santos que, este ano, vivenciou o lado mais triste da pandemia.
Sua mãe, Edna da Silva Santos faleceu vítima da covid-19 no dia 24 de março de 2021. Gabriela Auxiliadora Silva Santos, irmã de Fernanda, morreu no dia 30 do mesmo mês. Ambas permaneceram quase 20 dias internadas, foram intubadas e não resistiram à doença. Gabriela ainda estava grávida de 20 semanas e deixou uma filha de cinco anos.
Este processo de dor pelo qual passou e ainda passa Fernanda, é o que chamamos de luto. Com o avanço dos casos de covid desde o ano passado, a pedagoga engrossa uma estatística de acontecimentos que já envolvem mais de 550 mil famílias brasileiras.
Segundo o psicólogo Genilson Souza, o luto é o rompimento de um vínculo e isso pode acontecer em qualquer área. “Sentimos luto por um emprego que não temos mais, uma ferramenta que nunca usamos, mas que se quebrou, enfim, sempre por algo que se vai e que ainda não estamos psicologicamente preparados para esta perca”.
Fernanda teve que fazer um exercício interno muito grande para entender que, naquele momento, sua vontade, de ter mãe e irmã por perto, não seria respeitada. A explicação veio da religião. “Eu me vi caindo em um buraco e não as tinha mais para me tirar de lá. Mas eu entendi que foi feita a vontade de Deus”.
Segundo Souza, o processo de luto pelo qual muitas famílias passaram foi agravado durante a pandemia, uma vez que tivemos que nos adaptar os rituais de despedida dos nossos entes queridos, como o velório, a caminhada até o cemitério e o enterro. “Nós não temos mais contato com o corpo, não o vemos ser enterrado. Isso fez com que o luto ficasse ainda mais ferino, visceral e muito mais melancólico”.