Os médicos Cleudson Garcia Montali e Lauro Henrique Fusco Marinho, junto com Régis Soares Pauletti e Kleber Sonagre, foram transferidos do CDP (Centro de Detenção Provisória) de Lavínia para o CR (Centro de Ressocialização) de Araçatuba (SP) nesta sexta-feira (16).
Considerados líderes do esquema de desvio de dinheiro público da área de Saúde, por meio de contratos com OSSs (Organizações Sociais de Saúde), eles foram presos em 29 de setembro durante a Operação Raio X da Polícia Civil de Araçatuba.
Considerado modelo no Estado, o CR de Araçatuba é bastante cobiçado pelos sentenciados, tanto que em abril de 2018 o então diretor da unidade foi preso, acusado justamente de promover venda de vagas.
A prisão aconteceu durante a Operação Fura-Fila, deflagrada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), Núcleo do Ministério Público de Araçatuba.
Na ocasião, os promotores que conduziram a investigação revelaram que havia uma fila de espera com 300 pedidos de transferência. Durante o inquérito foi apurado que os valores cobrados variavam entre R$ 5 e R$ 10 mil, mas famílias com maior poder aquisitivo pagavam mais.
Finalidade
Resolução da própria secretaria determina que os Centros de Ressocialização devem receber apenas sentenciados com pena inferior a 10 anos, não reincidentes e que não tenham envolvimento com facção criminosa.
Antes de serem aceitos, os indicados são entrevistados e a vaga só é liberada autorizada mediante relatório com aprovação do diretor da unidade.
A unidade tem capacidade para 142 presos no regime fechado e na quarta-feira (14) abrigava 136, segundo a SAP. Na ala do regime semiaberto, com 72 vagas, havia 94 no mesmo dia.
Se enquadram
Apesar de possivelmente a fila de espera por vaga ainda existir, a SAP afirma que os quatro denunciados da Operação Raio X passaram por avaliação de perfil e atendem aos requisitos previstos na legislação sobre a inclusão de presos em CRs.
“A Secretaria da Administração Penitenciária esclarece que os presos em questão são acusados de cometerem crimes relacionados à aquisição irregular de insumos destinados ao combate à covid-19, tendo atuação profissional em hospitais e organizações sociais, não sendo relacionados a qualquer facção criminosa”, informa nota da secretaria.
Denunciados
Os quatro que foram transferidos para o CR de Araçatuba tiveram a denúncia do Ministério Público acatada pela Justiça e respondem a dois processos, um que tramita em Birigui e outro, em Penápolis. Eles também poderão responder a processo na Justiça Federal devido à investigação em curso no Estado do Pará.
Pesam contra eles a acusação de terem desviado dinheiro da Saúde que deveria ter sido usado na aquisição de equipamentos e insumos durante a pandemia, para fins particulares.
Crimes
Cleudson é apontado como líder do suposto grupo criminoso e somente no processo de Birigui ele responde criminalmente a 314 vezes por peculato, por lavagem de dinheiro e por integrar organização criminosa.
Apesar de a SAP informar que o grupo não teria relação nenhuma com qualquer facção criminosa, a reportagem apurou que um dos presos, que seria contratado pelo grupo para garantir a segurança dos demais integrantes, seria integrante do PCC (Primeiro Comando da Capital).
Entre as funções que exercia estava a participar de viagens e fazer o transporte de documentos, de veículos, de valores e de pessoas em favor da organização.
Adega
Dr. Lauro, como é conhecido, seria o braço direito de Cleudson e inclusive foi personagem principal de reportagem sobre a investigação exibida no Fantástico, da Rede Globo. Na Justiça de Birigui ele responde 212 vezes por peculato, por organização criminosa e lavagem de dinheiro.
Pauletti responde por organização criminosa e lavagem de dinheiro. Ele pertenceria ao núcleo administrativo do grupo e atuaria de maneira ampla defendendo os interesses da organização para expandi-la.
Depósitos bancários identificados pela investigação aponta que o réu seria um dos beneficiários diretos do esquema. Ele não foi encontrado para o cumprimento da prisão temporária durante a operação, mas uma semana depois se apresentou em uma delegacia na Capital Paulista.
Pará
Por fim, Sonagere teria gerenciado inicialmente o projeto de Araucária (PR), administrado pela OSS Irmandade da Santa Casa de Birigui.
Depois, já durante a pandemia, ele teria administrado projetos em Marabá, Castelo dos Sonhos e Castanhal, no Estado do Pará, onde o grupo também tinha negócios e a investigação é feita pela Polícia Federal.
Na Justiça de Birigui ele responde por integrar organização criminosa.