Inevitavelmente, ‘Doutor Estranho no Multiverso da Loucura’ parte do hermetismo desnecessário criado por filmes e séries que se cruzam. A nova ameaça capaz de unir super-heróis do Marvel Studios vem da revelação das realidades paralelas expostas em ‘Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa’ e mostra Stephen Strange em busca de proteção para América Chavez, uma jovem de outro universo que tem a capacidade de viajar entre as realidades.
O vingador busca ajuda de Wanda Maximoff (Feiticeira Escarlate), mas acaba percebendo que um mal maior está por trás da caça a Chavez, o que o faz viajar por inúmeros mundos com o intuito de salvar a garota e, ao mesmo tempo, tentar entender os motivos pelos quais ele mesmo se tornou alguém que afasta pessoas queridas e oblitera grandes poderes.
Escrito por Michael Waldron (criador da série ‘Loki’), o roteiro de ‘Doutor Estranho no Multiverso da Loucura’ é de uma simplicidade espartana. É a jornada do herói lapidada para Stephen Strange, um caminho que passa por ego, a agonia da perda, o coração partido e o descontrole do poder. Por sua vez, na figura de uma verdadeira bruxa, finalmente, Elizabeth Olsen — que transita brilhantemente entre a doçura de Wanda e a crueldade da Feiticeira Escarlate — transforma sua personagem em uma peça fundamental no Universo da Marvel. O equilíbrio atingido com a jornada de ambos é louvável.
Curiosamente, porém, é a partir da jornada de ambos, ou no decorrer da motivação de ambos, que os problemas do longa aparecem. Ainda que comece com razões plausíveis, o roteiro se perde ao colocar Chavez como um instrumento de avanço que pouco se justifica ser. O roteiro não dá conta de trabalhar tantas narrativas paralelas e, ao não conseguir conectá-las de maneira inteligente, acaba criando subtramas que não conversam entre si. Elas se tornam episódicas e, em alguns momentos, custam a acontecer de forma orgânica.